A obesidade, que vem crescendo significativamente, traz consigo além de comprometimentos físicos e metabólicos, também aqueles de natureza psicológica e social, que alteram diretamente o comportamento e o campo emocional dos pacientes. Baixa autoestima, desmotivação, retraimento social, prejuízos no aspecto afetivo-sexual e estados depressivos são alguns exemplos de acometimentos vivenciados por essas pessoas.

A preocupação com o surgimento de doenças relacionadas à obesidade, a insatisfação com a imagem corporal e/ou a pressão social levam o sujeito a investir, então, na perda de peso. Atividade física, dietas acompanhadas por profissionais, dietas “da moda”, uso de medicamentos anorexígenos, são os principais caminhos tomados por quem se dedica à perda de peso. Entretanto, o emagrecimento muitas vezes pode ser vivido de forma estressante, de idas e vindas, acompanhadas dos olhares, cobranças e monitoramento de familiares e amigos. Trata-se um processo que envolve determinação, exige dedicação e perseverança e, além disso, abertura para mudanças. Entretanto, algumas vezes as condições do paciente naquele momento, não são as mais favoráveis, e ele esbarra na frustração de não ter alcançado seu objetivo.

Algumas pessoas insistem várias vezes nessa tentativa, e muitas vezes a falta de um acompanhamento multidisciplinar sistemático e até mesmo a relação que o paciente estabelece com a alimentação o impedem de sustentar a perda de peso.

Nesse cenário, a cirurgia bariátrica surge como uma opção eficaz para a perda de peso satisfatória, oferecendo suporte para que a pessoa consiga manter-se em seu peso adequado. A decisão de se submeter à cirurgia bariátrica, na maioria das vezes, é resultado de um processo anterior em que o paciente vive muitas insatisfações, preconceitos e marginalização, tendo passado por tentativas anteriores de emagrecimento, sem sucesso. A cirurgia abre a possibilidade de ele recuperar sua saúde global, física e psicológica, mas há uma parte importante nesse processo que depende exclusivamente do paciente que assume essa escolha.

Ao decidir pela cirurgia o sujeito precisa compreender e valorizar o período pré-operatório como um tempo importante de autoconhecimento, reflexão sobre sua obesidade e suas possíveis causas, e sua participação no processo de ganho de peso. Preparar-se bem é imprescindível para um bom começo após a cirurgia. Por isso é preciso ser cuidado por uma equipe coesa, entrosada e que esteja capacitada a compreender e atuar de modo eficiente junto ao paciente.

A cirurgia propõe não apenas o emagrecimento, mas uma mudança de atitude, de vida, a capacidade de aceitar algumas perdas para que os ganhos tenham espaço para permanecer. As expectativas de que a cirurgia vai “mudar a vida” é bem comum, mas essa mudança tem mais a ver com o que o paciente vai fazer da cirurgia, do que o que o ato cirúrgico em si é capaz de proporcionar. Os resultados da cirurgia trazem motivação para que a pessoa consiga começar seu movimento de mudança e transformação interior, mas isso precisa ser constante, e não pode ser apenas uma euforia inicial. Manter-se em atividade física, com alimentação saudável e nos horários adequados, fazer os retornos à equipe multidisciplinar e seguir as orientações dos profissionais faz toda a diferença para que o pós-operatório seja satisfatório e duradouro. Uma cirurgia definitiva precisa de atitudes e mudanças definitivas.

 

Renata Corrêa Carvalho
Psicóloga da equipe do Instituto Mineiro de Obesidade e Cirurgia (IMOC)